23 agosto 2017

Um certo odor a bafio

Deixar que a necessidade de reforçar a segurança leve o Governo a alimentar a ânsia de controlo é o princípio de um caminho que levou sempre o mundo para lugares errados.
 
Sorrateiramente, nas férias grandes, entre o prazer do sol e o drama dos incêndios, o Governo andou entretido a urdir o mais consistente plano de ataque às liberdades públicas fundamentais dos últimos anos. Fielmente ajudado pelo CDS e pelo PSD, avalizado pela aura presidencial e pelo prestígio do constitucionalista Marcelo Rebelo de Sousa, o Governo não se deu por satisfeito ao autorizar o acesso dos serviços secretos ao cruzamento do rasto das nossas conversas telefónicas com as portagens que passamos ou com os sites da internet que visitamos. Já este Agosto avançou com mais duas medidas hediondas que, dêem-lhe o embrulho que derem, metam ou não o Supremo Tribunal ao barulho, representam um violento ataque direito à privacidade, a trave-mestra da verdadeira liberdade. Pois não bastava os espiões poderem espiolhar a nossa vida por dá cá aquela palha; também o polícia do Bairro Alto vai ter acesso ao que dizemos na via pública se muito bem lhe apetecer.
 
Num país como o Reino Unido onde até o bilhete de identidade é visto com suspeição, o simples anúncio de uma medida desta natureza bastava para que se erguesse um coro de protesto. Por cá, não. Com excepção do PCP e, principalmente, do Bloco de Esquerda, que mandou algumas das suas principais figuras para a frente de combate, as propostas do governo socialista foram brindadas com um revelador silêncio. Exigir o respeito pelos valores básicos da intimidade pessoal ou o direito a ter uma vida insusceptível de ser controlada pelo Estado e pelos seus agentes é uma extravagância num país que jamais se libertou do paternalismo estadual. É assim que, recorrendo ao velho e relho argumento securitário, pegando em exemplos mal contados sobre o que se passa no estrangeiro, polindo violações flagrantes detectadas há apenas dois anos pelo Tribunal Constitucional, apesar de vivermos num país pacífico, o Governo se dá ao luxo de violar o preceito constitucional que proíbe "toda a ingerência das autoridades públicas na correspondência, nas telecomunicações e nos demais meios de comunicação, salvos os casos previstos na lei em matéria de processo criminal" no meio de uma apatia quase geral. Por vezes, temos o que merecemos.
 
O que está em causa é grave. O fervor securitário do Governo deixa a levitar a suspeita sobre uma propensão controladora pouco saudável. Não apenas pela aprovação da "lei dos metadados". Mais grave ainda é a autorização de gravação de conversas na rua aprovada por um banal despacho de renovação do sistema de videovigilância no Bairro Alto. Ou a legislação prometida para Outubro, que vai conceder às polícias o extraordinário poder de aceder a todas as imagens gravadas pelos sistemas de segurança privado que existem nos supermercados ou nos bares.
 
Estão a ver os polícias de plantão a passar o tempo escutando a conversa do jovem casal numa rua de Lisboa? Estão a ver o cabo ou o sargento de Leiria a querer saber por ondou a namorada do filho ou o marido da vizinha no fim-de-semana passada? Estão a ver o amigo do chefe a pedir-lhe o favorzinho de verificar se logo à noite a namorada anda sozinha na noite lisboeta? Claro que lá virá a ministra, a secretária de Estado ou o primeiro-ministro dizer que tudo isto não passa de demagogia, que haverá controlos, que não haverá abusos. Pois. Já diziam o mesmo antes de termos um espião de opereta a passar segredos para uma empresa do regime, a famigerada Ongoing. Já soubemos de diligências da secreta para captar as comunicações de um jornalista. Já percebemos que é fácil e tolerado o acesso de funcionários do fisco às nossas vidas contributivas. Já sabemos da facilidade com que conversas privadas em segredo de Justiça chegam aos jornais. E tudo isto num quadro em que as garantias de segurança dos dados são muito mais efectivas. No futuro, a nossa privacidade ficará dependente da idoneidade dos polícias ou os seus altos critérios intelectuais e morais para saberem distinguir conceitos tão abstractos e exigentes como o da noção de "perigo concreto para a segurança das pessoas e bens".
 
Se até agora, e bem, o acesso das secretas aos metadados exigiam uma validação judicial, se a captação de conversas privadas em lugares públicos ou nas ligações telefónicas requeria o aval de um magistrado, a proposta do Governo deixa-nos absolutamente entregues ao livre arbítrio da polícia. Ou seja, em última instância, do Governo que tutela as polícias. Se até agora era altamente discutível que o dono de uma discoteca tivesse direito a poder saber se um cliente bebeu duas ou dez cervejas numa noite, conceder à PSP o direito de poder vasculhar quem esteve, quando esteve, com que esteve e e como esteve A ou B nos bares da Galeria de Paris no Porto é um pesadelo.
 
Custa por isso a perceber que, ao contrário da Comissão Nacional da Protecção de Dados, os magistrados que nos devem defender do excesso de poder do Governo tenham aceitado estas mudanças. E, se o CDS é coerente e deixa nestes momentos deixar a cair a máscara que esconde a face de uma direita musculada e estatizante, não se entende como o PSD vai atrás do Governo numa matéria desta sensibilidade – a prova acabada de que o partido continua a matar a sua matriz social-democrata e liberal. Ver o PCP e o Bloco empenhados na defesa de uma causa que costuma ser particularmente cara aos liberais não deixa de ser mais um exotismo nestes tempos em que vivemos.
 
O Parlamento ainda tem tempo para sair do torpor das férias e olhar com olhos de ver para os estragos que o Governo anda a fazer e quer continuar a fazer em matéria de direitos, liberdades e garantias. Bem sabemos que este tema diz pouco à maioria dos cidadãos, mas deixar que a necessidade de reforçar a segurança leve o Governo a alimentar a ânsia de controlo, sem que se viva um estado de excepção ou sem que esteja em causa a suspeita de um crime avalizada pela Justiça, é o princípio de um caminho que levou sempre o mundo para lugares errados. Muito antes das ditaduras do século XX ou dos fantasmas de um mundo orwelliano, já Benjamim Franklim dizia: "Todos os que trocam a liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem a liberdade nem a segurança".
 
Manuel Carvalho, Público, 23 de agosto de 2017
 
 
 
Bem hajam os que defendem a liberdade de forma coerente.

08 agosto 2017

A ameaça fantasma

Comunicado do Conselho de Ministros, 27 de Julho de 2017:
 
Por fim, o Governo aprovou na generalidade um decreto-lei que estabelece um sistema de registo obrigatório das aeronaves pilotadas remotamente (vulgarmente designadas «drones») e institui a obrigatoriedade de contratação de seguros de responsabilidade civil que cubram eventuais danos provocados a terceiros por estes aparelhos. Este diploma visa também estabelecer restrições do ponto de vista da segurança da navegação aérea, tipificando novas contraordenações aplicáveis à operação deste tipo de aeronaves e instituindo o regime sancionatório a aplicar no caso de incumprimento destas normas, bem como todas as medidas cautelares de segurança, que ficam a cargo da Autoridade Nacional de Aviação Civil.
 
Este diploma irá, assim, disciplinar a utilização das aeronaves pilotadas remotamente, através da criação de novos mecanismos legais que permitirão uma supervisão e fiscalização mais eficaz da comercialização e utilização destas aeronaves a nível nacional, procurando dissuadir a eventual prática de atividades ilícitas com «drones», enquanto não vigorar um regime uniforme de âmbito internacional ou europeu sobre a matéria.
 
Comentários:
  • Desconhece-se, até ao presente, qualquer acidente com aeronaves de grande porte causado directamente por drones civis. Mas desde o inicio de 2017 terão sido publicadas mais de uma dezena de notícias em jornais nacionais alertando para o risco iminente de isso acontecer.
  • Como o próprio comunicado anuncia não vigora nenhum regime uniforme quer no âmbito internacional quer no âmbito europeu.
  • Com excepção de eventuais violações do direito à reserva da vida privada (que não parece ser uma competência da entidade responsável pela aviação civil) não há notícia de quaisquer incidentes/acidentes causados por drones.
  • Os drones vieram acabar (praticamente) com as filmagens aéreas (avião e helicóptero) que eram fonte de rendimento de muitas empresas de pequena e média dimensão.
  • O regime a aprovar gerará um apreciável montante de receitas para o Estado e para as seguradoras/financeiras. Por essa via limitará o acesso à actividade centenas de pequenos empresários de fotografia/cinema.
  • A ameaça para a segurança da aviação civil não passará de uma «ameaça fantasma», manipulada pelos interesses do costume.

02 agosto 2017

As bocas do mundo

vs.
 
O mundo das bocas
 
 
 
Um marroquino casado com uma bombeira portuguesa foi expulso aquando da vinda do Papa Francisco a Portugal. O indivíduo, que já estava a ser vigiado, fez várias compras suspeitas de nitratos, substância usada para bombas artesanais. E convenceu a mulher, uma bombeira de Ourém, a tentar infiltrar-se na ambulância que esteve sempre nas proximidades do Papa – o que não conseguiu.
 
Mas a segurança papal nunca terá estado em risco, pois, na noite em que Francisco participou na bênção das velas Santuário, muitos agentes do SIS e da PJ estavam infiltrados entre os fiéis, vigiando os marroquinos suspeitos e neutralizando todas as hipóteses de uma ação criminosa.
 
O episódio envolvendo o marroquino não foi noticiado para «Portugal não ficar nas bocas do mundo», como adiantou ao SOL uma fonte policial.
 
Aliás, o mesmo acontece com os casos de expulsão de suspeitos de terrorismo, atendendo ao impacto negativo que essas notícias poderiam ter em termos de alarme social e, designadamente, para o turismo nacional.
 
Nos últimos meses, os Serviços de Informação e Segurança (SIS), em colaboração com a PJ e a PSP, detetaram diversos movimentos de alegados terroristas em Portugal, tendo expulso, além do referido marroquino, um jordano.
 
 
 
O Portugal é, talvez, o único país do mundo que não detém os terroristas para não causar alarme para o turismo nacional (?). Em vez disso expulsa-os.

30 julho 2017

Tancos e o SIS

De acordo com o ciclo de produção de informações explicado aos deputados.

06 julho 2017

A embrulhada

Depois dos incêndios de Pedrogão Grande e do desaparecimento das armas de Tancos, o PM bem precisa de férias. Os tempos mais próximos vão ser muito mais duros do que a passeata que se previa até às eleições autárquicas e daí até às legislativas.
 
Sobre esses dois casos graves, gravíssimos, não vai a Companhia elaborar porque se afastam do escopo da sua missão (um exemplo que devia ser seguido por muitos dirigentes de topos dos chamados Servicios).
 
O PM tem por resolver a substituição do secretário geral do SIRP, depois do que foi a patética encenação (durante meses) da substituição sem epidural. Se tivesse tempo e sentido de serviço público apuraria o que correu mal e esmiuçaria o "inner circle", porque nele se alojou o facilitismo e, pior, o sentimento de impunidade. Quando isso acontece estamos perante o príncipio do fim.
 
Para a tempestade ser perfeita o partido envolveu-se, ingenuamente, em politiquice parlamentar em torno de assuntos sérios (Conselho de Fiscalização e lei do acesso a metadados). Como o partido mais votado está votado ao abandono e a ridiculos "soundbites" esporádicos, o CDS levantou a crista(s). No parlamento ficou demonstrado que a gestão da agenda/calendário por parte do partido do governo está mal entregue. Meteram o PM numa embrulhada de dimensões lendárias. E quando teve oportunidade de sair da dita embrulhada, como era de esperar de quem se supera a si próprio em termos de técnica e táctica, truques e ilusionismo, o PM afundou-se ainda mais na embrulhada movediça.
 
Chamar a si o foco das atenções e dar uma de caudilho de serviços que têm tutelas próprias revela, uma vez mais, confiar num circulo de aprendizes que ainda não percebeu que está no último andar da arquitetura do poder. Agora o único caminho é para baixo.
 
E nem o Focus Group nem São Marcelo os salva.

28 junho 2017

Correio

Novo endereço

compintel AT zoho.eu

27 junho 2017

Entre o Bosta e o Bosta-Mor

 
Durante anos consecutivos o Camarada Zé, o da Alheira (como o apelida a malta do Besunte) foi recrutando sangue novo, sempre com a ajuda interna do Moulin Joe, Oak Jim, All Saints Frank e Chicken Horny. Desde 2006 é desta massa que é feita esta tecitura dramaticamente organizada.
A qualidade dos rapazes e raparigas (algumas são mesmo raparigas) está à vista.
Tudo à imagem dos mentores, patrocinadores e progenitores. Como dizem alguns amigos da Companhia: "Lídimos representantes da fina flor do entulho".
As fornadas que foram saindo da "escola" (como a chamam alguns pategos, que nunca devem ter frequentado nenhuma) reflectiram a sociedade que as pariu: metade carneiros, metade filhos da puta, mais coisa menos coisa.
Perante tal quadro de origem, aperfeiçoado por cursos de formação que deveriam durar 6 meses, mas que são encurtados para 2,5 meses porque "o serviço necessita urgentemente de man power" (quando ao mesmo tempo se prescinde, de forma escandalosa, de massa cinzenta e crítica que vai servir com vantagens outras instituições). E quando não se assume que o encurtamento dos cursos resulta de duas razões principais: 1) Cansaço dos estagiários que imploram aos mentores, patrocinadores e progenitores "Tirem-me daqui!!!!" ou 2) Cansaço dos "professores" que já não sabem, se é que alguma vez souberam, que mais hão-de inventar para "capacitar" os seus pupilos.
Neste período revelam-se as vedetas, os artistas, os naturais e os filhos da mãe. Se houvesse gente com eles no sítio era o momento certo para evitar situações que explodirão 20 anos depois, como aconteceu com o Oak Jim (também conhecido com Original Bosta ou Jabba the Hutt).
Se um futuro Bosta diz que está farto de aturar a Florípedes, "investigue-se até às últimas consequências" o comportamento do Bosta e da Florípedes. Se um futuro Bosta se recusa a comparecer, apesar de advertido, temos um problema. Se a advertência é feita pelo Bosta-Mor e não pelos serviços competentes temos um problema de ilegitimidade, incompetência e abuso de poder. Dos Tribunais, portanto.
Se, apesar de tudo, o Bosta continua a não comparecer e o Bosta-Mor faz de conta que está tudo bem temos uma ficção reles de um serviço público.
E é uma ficção porque não é serviço nem é público. Mais uma a somar a tantas outras que existem e devoram os nossos impostos.

Para lá do Torreão

O melhor é esquecerem toda a lógica.
 
De Max Planck a Albert Einstein o que se ganhou em mecânica quântica perdeu o estudo ontológico de Parmenides.
 
A Companhia não está aquém ou além.
 
As above, so below é o que melhor define a situação da Companhia.
 
O paralelo é total com César e o Rubicão.
 
 

12 junho 2017

Queres fazer? Tens de saber o quê

A nossa elite política tem urgentemente de encontrar uma visão são os seus serviços de informações. Esta metodologia reactiva de ir nomeando umas figuras dóceis e "porreiras pá" para chefiar aquilo que pomposamente designam o SIRP (que, em rigor, apenas corresponde em dimensão, orçamento e objectivos a uma direcção-geral menor da administração pública) está caduca.
 
O primeiro ministro pode fazer diferente. Tem, em primeiro lugar, que saber o que fazer. Preocupe-se depois com o perfil de quem vai escolher para liderar a mudança.
 
Os portugueses ficar-lhe-iam agradecidos.
 
Nós, no Torreão, também.

08 junho 2017

E agora?

Isto é tudo muito bonito. É tudo gente muito honesta e responsável. Bla, bla, bla.
 
Mas sendo verdade que durante meses (os que durou esta substituição sem epidural) as comadres se juntaram para a "passagem de pasta", como noticiou alguma (pouca e a do costume, porque o acesso é limitado à boa) imprensa, como ficamos?
 
E as deslocações de Estocolmo a Lisboa, quem as pagou? Já para não falar das que tiveram lugar de Lisboa para Estocolmo, só para preparar as "cimeiras" de sexas.
 
E o segredo de estado (o mesmo que mantém em prisão domiciliária um "dux veteranorum"), foi beliscado?
 
O SIS não investiga? E o Conselho de Fiscalização nada tem a dizer? A oposição de direita, sempre tão ciosa dos interesses nacionais, não se questiona sobre o processo substitutivo natural, como se fossemos todos da mesma confraria (e estando os interesses da confraria acima de outros interesses)? E a muleta parlamentar de esquerda que sempre nutriu um "carinho" especial pelas actividades de informações do Estado, não quer saber o se se passou?
 
E o Presidente, essa alma grande e bondosa, prepara-se também ele para esquecer e perdoar?
 
Extraordinária ficção. A dos serviços de informações nacionais. Não é?

Caixa de Pandora

 

07 junho 2017

O grande e único

Com o rigor de um Longines, Pompeo estendia a toalhinha de mesa, alinhava o pão, o chouriço, o paio de Montalegre e a navalhinha comprada na feira de Vila Real. A garrafinha «La Casera» de sete e meio ficava sempre em lugar de destaque, cheia de nectar tinto, de boa cepa.

O chefe, uma vez mais,mas com toda a paciência do mundo dizia-lhe:«Ó Pompeo, vamos ter de acabar com isto!»

Pompeo, em acelerado, levando a «La Casera» aos queixos, retorquia: «É para já, meu coronel. É para já!»

06 junho 2017

Insanidade e refugo

Quem ouve o presidente da República, o primeiro ministro, os lideres partidários falarem no SIRP e nos serviços de informações fica com a ideia, FALSA, de que eles atribuem grande importância à sua missão e à sensibilidade das matérias que neles são tratadas.
 
A falsa importância dos serviços de informações é denunciada, desde logo, pelos processos de nomeação (ou de manutenção) dos seus dirigentes máximos.
 
A novela porto-riquenha em curso para nomeação do futuro secretário geral do SIRP é disso um bom exemplo.
 
E se outras razões não existissem, porque é que os senhores primeiros ministros (o atual não é o único) insistem em certas nomeações?
 
Sobretudo quando nunca lhes terá passado pela cabeça nomear um oficial de informações, por exemplo, para:
 
-Secretário geral do Ministério dos Negócios Estrangeiros
-Procurador geral da República
-Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas
-Comandante Geral da GNR
-Diretor Nacional da PJ
-Diretor Nacional da PSP
-Diretor Nacional do SEF
-Comandante Geral da Polícia Marítima
 
 
Mas para o SIRP, SIED e SIS serve tudo. Até o refugo.
 
re·fu·go
(derivação regressiva de refugar)
substantivo masculino
1. Aquilo que sobra, que é posto de lado ou que não é escolhido, geralmente por ter menos qualidade. = REBOTALHO, RESTO
2. O que tem defeito ou não tem valor menor.
3. O que é considerado mais censurável do ponto de vista social ou moral.
"refugo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
 
 
NB - O caso de um individuo que há alguns anos ocupou um cargo de dirigente máximo no SIED, ultimamente recordado para justificar a não nomeação de oficiais de informações é usado de modo falacioso. Na verdade, o referido individuo fez carreira num serviço de segurança e transitou (da forma que bem se sabe) para o topo de um serviço de inteligência. Como se alguém que fez toda a sua carreira na GNR de repente fosse nomeado diretor nacional da PJ. Quem o nomeou? Quem propõs a sua nomeação?

02 junho 2017

São os interesses nacionais, estúpido

Ao contrário do que alguma argumentação tem carreado para a praça pública relativamente à indigitação de PG para secretário geral do SIRP, o que está em causa não é apenas a questão do perfil psicológico.
 
Se o fosse, seria grave e indesculpável, porque o passado recente sempre aconselharia um rastreio psicológico para candidatos a cargos de liderança no SIRP. À semelhança do que acontece (ou deveria acontecer) como requisito de ingresso no SIED ou no SIS.
 
Em causa está uma questão de carácter, uma questão ética e, finalmente, uma questão política.
 
A questão de carácter resulta da pusilanimidade demonstrada em face dos acontecimentos vividos em Timor-Leste, testemunhados por dezenas (indiretamente por milhões) de pessoas, e que uma versão pessoal e dulcificada está longe de afastar.
 
A questão ética resulta da compulsão negacionista da realidade. É verdade que a mentira pode resultar do perfil psicológico de um individuo, mas as suas consequências são, sempre, ferir de morte a dimensão moral dessa pessoa.
 
Finalmente, a questão política resulta evidente. Sendo o secretário geral do SIRP o responsável último do relacionamento internacional da instituição, com que cara aparecerá perante aqueles que, ainda vivos, testemunharam a tibieza demonstrada num momento em que a comunidade internacional esperava coragem e frontalidade? Em Timor-Leste, na Austrália, nos EUA, entre outros, não faltará quem sublinhe o picaresco da situação. Com que cara aparecerão os seus subordinados?
 
Mais do que servir clientelas, políticas ou outras, os serviços de informações têm por missão a defesa dos interesses nacionais.
 
E eles serão defendidos. Para cá e para lá do Torreão.

01 junho 2017

O diplomata errado para a cúpula secreta

José Vegar
 
 
 
O primeiro choque é provocado pelo facto de a nomeação ser mais um indicador nítido de que os partidos políticos portugueses não conseguem ter uma relação madura e profissional com os serviços de informações.
 
O segundo choque é provocado pelo facto de que o diplomata escolhido tenha acedido ao convite, recusando-se a aceitar, devido a complexos traços de personalidade, que o seu desempenho profissional como Secretário de Estado da Defesa, entre 1995 e 1997, e como chefe da Missão Diplomática Portuguesa no Referendo de Timor-Leste, em 1999, o impedem de ter capacidade para desempenhar a função em causa.
 
Para quem, como eu, estuda há mais de 25 anos o sistema de informações português, há um problema estrutural que nunca foi resolvido.
 
Os receptores primários e fundamentais do trabalho do sistema, o Presidente da República e o Governo, desconfiam, desvalorizam e menorizam a actividade e o produto dos agentes do sistema, ou seja dos serviços de informações, SIS e SIED.
 
Esta cultura manifesta-se tanto nas relações profissionais comuns entre os órgãos de soberania e os referidos serviços, como em momentos cruciais, como é este da escolha e nomeação de um secretário-geral do sistema.
 
Para dar conta aqui apenas das funções essenciais do cargo, o secretário-geral tem o poder para conhecer toda a informação investigada e produzida pelo sistema, o de determinar prioridades de investigações, bem como o de decidir o que deve ser comunicado ao Presidente da República e ao Governo, através do primeiro-ministro.
 
A função, então, tem de ser desempenhada por um secretário-geral politicamente ecuménico, e com uma personalidade talhada para resistir a pressões violentas e a riscos que, muitas vezes, estão relacionados com perigos maiores para os cidadãos portugueses.
 
Ao nomear o diplomata José Júlio Pereira Gomes, o primeiro-ministro desprezou esta exigência, juntando-se ao grupo de governantes que tem contribuído, nas últimas décadas, para uma contínua desvalorização institucional do papel dos serviços de informações na democracia portuguesa.
 
Neste episódio específico, a desvalorização é extremamente nítida porque o diplomata José Júlio Pereira Gomes não possui uma personalidade com a tipologia que apontei.
 
Da minha relação profissional, como jornalista, com o diplomata referido, tanto nas suas funções governamentais, como na sua liderança em Timor-Leste, há um vasto conjunto de traços de personalidade e de comportamentos que devo apontar.
 
Em primeiro lugar, o diplomata em causa não teve o profissionalismo necessário para lidar com o facto de que as funções que desempenhava estavam sujeitas a escrutínio público.
 
Esta incapacidade levou-o a considerar um vasto conjunto de investigações feitas por mim como ataques pessoais, e, num processo mental que ainda hoje me surpreende, a cometer um sistemático abuso de poder, informando pessoalmente os seus subordinados, no ministério da Defesa, e na missão em Timor-Leste, de que estavam proibidos de qualquer contacto pessoal e profissional comigo.
 
De seguida, o que aconteceu, no Ministério da Defesa, mas especialmente em Timor-Leste, foi que o diplomata cedeu mentalmente à pressão dos cargos que exerceu, e no caso de Timor ao contexto de segurança existente naqueles meses de 1999, e o pânico paranoico em que se encerrou determinou as suas decisões e actos.
 
Estas decisões e actos foram, muitas vezes, contrários aos objectivos da Missão que chefiava, afectaram os interesses portugueses, prejudicaram o desejo do povo timorense, e colocaram em risco vidas.
 
Mas, o mais importante é que o diplomata José Júlio Pereira Gomes nunca foi capaz de dar conta pública do seu comportamento nas funções profissionais que aqui isolo, entrando num processo de negação que dura até hoje.
 
Assim, a sua nomeação pelo primeiro-ministro é um acto de amadorismo que só pode ser explicado pela cultura governamental que refiro neste texto, mas a aceitação por parte do diplomata mostra claramente o que domina a sua personalidade.
 
Cabe agora à Assembleia da República, através da comissão indicada, promover o inquérito indispensável à adequação do nomeado ao cargo, e não sancionar a escolha governamental de modo burocrático e leviano.

Idoneidade, senhor Primeiro Ministro

Idoneidade.

É do que as pessoas estão a falar no Torreão.Ou se tem ou não se inventa.

O risco é que a falta de idoneidade acaba por rebentar em certas mãos.

Uma história tão velha como o mundo.

31 maio 2017

Besuntema

O Besunte não é apenas um local de encontro, é um modo de estar na vida.

25 maio 2017

diário de uma sopeira

Nunca conseguiu ir além de mocinha de recados.
 
Do que fala, sem embaraço ou vergonha, percebe pevas.
 
Capachinho do azeiteiro de serviço.
 
Assim se fez uma carreirinha.

19 maio 2017

O estigma social

E a história da Carochinha.

Pelo meio há histórias de Ogres, Bruxas, Mestres Jedis e Chefs (de taberna, como é bom de ver). Muitos milhões de euros e milhas voadas depois, este é um balanço a merecer, claro está, a comenda no 10 de junho.

As crónicas do país dos afetos.

«Aplaudindo a proposta dos centristas, semelhante, aliás, à do governo e ambas discutidas esta quarta-feira no parlamento, o chefe dos espiões faz um balanço dramático dos serviços. "A perda de operacionalidade decorre em boa medida de uma tendência constante de perda de quadros qualificados, que resulta não apenas do envelhecimento da pirâmide etária, mas, crescentemente, da falta de atratividade e de capacidade de retenção de talento, quando falamos de trabalhadores jovens e superiormente dotados de competências transversais, com interesse para o mercado de trabalho dentro e fora do país".

Diz o magistrado que se "verifica um claro desequilíbrio entre o permanente escrutínio de segurança, os decorrentes impedimentos e o estigma social, por um lado, e o leque menor de direitos funcionais face ao previsto para trabalhadores de regime geral, por outro".

Júlio Pereira recorda que a proposta de lei do anterior governo, que, além do acesso aos metadados- chumbada pelo Tribunal Constitucional (TC) - "visava, antes de mais, a inadiável modernização administrativa dos serviços de informações, regidos por um estatuto funcional obsoleto, inalterado desde 1991". Apesar de o TC ter vetado apenas um dos artigos, todo o diploma ficou sujeito à caducidade no final da legislatura, sem que não tivesse havido iniciativa legislativa para resolver, pelo menos, as questões da carreira dos espiões.

Para o magistrado "permanece não apenas a necessidade de dotar os serviços de informações de meios operacionais críticos, como é o acesso aos metadados, mas também de reconhecer que estes serviços públicos carecem de um novo regime, atualizado à luz da mais recente reforma administrativa, depois de ter ficado à margem de sucessivas reformas legislativas ocorridas nas últimas décadas". Assinala que "o SIS e o SIED continuam a ser regidos por legislação de 1991, rendo perdido dignidade e competitividade face às demais entidades ao serviço das missões de salvaguarda da soberania nacional". Compara mesmo a situação dos espiões com a "constante evolução e investimento nos demais corpos especiais, tais como o corpo diplomático, as Forças e Serviços de Segurança e as Forças Armadas, que foram sendo consistentemente dotados de meios legais, de programação de recursos logísticos e tecnológicos, de renovação e qualificação do capital humano".»

A geração SEM-SEM

SEM vergonha.

SEM desculpa.

 

«O demissionário secretário-geral das secretas, Júlio Pereira, diz que os serviços perderam "dignidade" e "competitividade"

As secretas portuguesas perderam "operacionalidade" e "quadros qualificados", têm um estatuto "obsoleto" e, nos últimos anos, têm também perdido a "dignidade e a competitividade" face às polícias e às Forças Armadas. O retrato implacável é assumido nem mais nem menos pelo demissionário secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), Júlio Pereira, procurador, há 12 anos a dirigir os espiões. E será o "caderno de encargos" para o recém indigitado embaixador José Júlio Pereira Gomes, que governo escolheu para comandar o SIRP.

Num parecer enviado à Assembleia da República sobre o projeto-lei do CDS para que as secretas possam aceder aos chamados "metadados" das comunicações da internet e dos telefones (identidade dos utilizadores, números utilizados e localização), Júlio Pereira, revela, em nota de despedida, que deixa para trás uns serviços de informações em rutura.»