28 abril 2014

Vaidades umbilicais

Os Anonymous decidiram comemorar os 40 anos do 25 de Abril com um ataque aos sites da Procuradoria-Geral com alegada exposição/comprometimento de dados.
    Como já se vem tornando um hábito são maiores os efeitos da publicidade destas notícias do que os efeitos dos supostos ataques.
    Não queremos aqui avaliar o mérito das causas dos Anonymous. E muito menos avaliar a suposta ilicitude dos atos por eles praticados. Para isso existem outras entidades.
    Os ataques dos Anonymous filiam-se no que a novel doutrina ciber denomina hacktivismo e os seus objetivos são a publicidade. É bom relembrar isto porquanto não há, tanto quanto se sabe, uma intenção clara de causar prejuízo nem de obter lucros. Do ponto de vista criminal (para aqueles que são mais focados nesta área) o dolo contínua a ser central e, por esse motivo, não é irrelevante apurar se ele está ou não presente. Por estes motivos é que qualquer semelhança que se queira traçar entre terrorismo e hacktivismo não passa de dolo criativo.
    Em Portugal, desde há décadas se verificam (diz-se no millieu) ataques e intrusões em sistemas informáticos. Sobretudo a bancos e grandes corporações. Provavelmente muitos dados foram comprometidos. A resposta, no entanto, sempre se pautou pelo silêncio e pela discrição. E, naturalmente, pela adoção de efetivas medidas de correção de vulnerabilidades e implementação de políticas ativas de cibersegurança. Esta é a atitude correta.
    Quando se recorre de imediato à imprensa e se anunciam inquéritos e investigações policiais sem sequer perceber a dimensão dos danos e/ou do comprometimento de dados, algo não está bem. É a manutenção dos hábitos do século XIX para enfrentar os desafios do século XXI. São as vaidades e as preocupações com o umbigo que se sobrepõem à compreensão do fenómeno e à definição de uma resposta coerente.
     É o que temos. O pouco que temos. Infelizmente.

25 abril 2014

Colheita tardia

Quarenta anos depois os princípios de Abril tardam a chegar a certos sirp...perdão, sítios.

23 abril 2014

Vómito

Sentem o odor nauseabundo do vómito? Pestilento.

21 abril 2014

Fontes Abertas

No dia 24/3/14 Leonídio Paulo Ferreira escreve no DN uma curiosa peça intitulada Mini guerra fria para animar venda de armas.
    Utilizando dados do SIPRI, um insuspeito instituto sueco que produz relatórios sobre vários assuntos, entre os quais as vendas de armamento, o jornalista produz um pequeno, interessante e útil artigo, capaz de fazer corar os melhores analistas (que os há...) do SIED.
    O documento de LPF, que não se limitou a copiar dados do SIPRI relativos ao período de 2009-2013, integrou outros dados das chamadas fontes abertas (Le Monde, Bloomberg, etc.), poderia ter sido produzido por um serviço de informações tal a metodologia e os conhecimentos utilizados.
    Escrito em plena crise entre a Rússia e os EUA a propósito da Crimeia/Ucrânia, nem esse aspeto lhe terá passado ao lado. O que só enriquece o documento.
    A Companhia recomenda a sua leitura. E aos brilhantes analistas de informações deixa um conselho: abram os olhos!

Divina Comédia

De regresso à notícia do CM de 12/4/14.
    Parece que o principal arguido colaborou na elaboração do programa do PSD para a área das informações. Mas afinal parece que não participou. Segundo alguém apenas deu contributos. Como se trata do principal partido do atual governo é estranho que ninguém dessa área política tenha vindo a público perguntar como, quando e porquê foram pedidos e entregues esses contributos?
    E seria que o putativo autor dos contributos ainda estava na tal instituição nacional suprapartidária? E sabia que sobre ele impendia o dever de sigilo senão mesmo o segredo de Estado?
    E consideram os políticos normal recorrerem a membros de instituições ditas suprapartidárias para finalidades partidárias? E consideram eles normal serem cúmplices da violação do dever de sigilo e do segredo de Estado?
    E será que ainda há partidos da oposição na assembleia nacional, livres e capazes de questionarem o governo sobre estes alegados factos?
    O que se segue é mais preocupante. Afinal o principal arguido foi convidado para secretário do SIRP. Segundo o próprio convidado. E ninguém pergunta: como, quando, porquê, para quê e por quem?
    Parece que o primeiro ministro não terá sido. Até porque nunca confirmou o convite mistério. Então quem terá sido? O mesmo ex governante apanhado a mentir perante várias comissões parlamentares?
    E Bernardo Bairrão, também referenciado na notícia e ao que parece nos depoimentos judiciais? O que tem a ver com esta comédia?

De traição se falará depois.

15 abril 2014

Área das informações

O CM de 12/4/14 traz mais umas achas para a imensa fogueira em que se tornou o caso das secretas. Passemos alegremente por cima das já conhecidas ligações via maçonaria dos intervenientes. Já não é notícia e a sua inclusão no título não passa de um chamariz.
    Mas há aqui algumas novidades. Que se tornarão tão mais importantes quanto é sabido que terão sido proferidas perante um juiz de instrução.
    A primeira parece ser a afirmação de uma testemunha que diz que o principal arguido participou na elaboração do programa  do PSD para a área das informações.
    Voltaremos ao tema.

06 abril 2014

1 de abril

A apresentação formal do relatório de segurança pelo responsável da pasta deu origem a inúmeras notícias nos diários e semanários portugueses.
    Pela coincidência das datas dir-se-ia que se tratavam de mentiras de 1 de abril. Não eram de 1 de abril. Mas também não eram verdades.

Filiados no ridículo


Um santo, um adjetivo e um substantivo. As filiações. A desdita de para sempre viver com as marcas da filiação. Os espiões obrigados a declararem, não apenas o IRS mas também as filiações. As pressões sobre a maioria e as depressões. A realidade que foge a galope. E finalmente o Case.

Alguém que consegue juntar na sua identificação civil um santo nome, um adjetivo e um substantivo, produzindo um animal com qualidades raras, para não dizer mitológicas ou inexistentes, vem hoje na Ordem de Serviço da caserna lida por menos de 1000 pessoas (pelo menos na sua versão em papel) falar de filiações.
    Qualquer um que tivesse a desdita de ter nascido com tais sinais viveria para sempre marcado por problemas de filiação. Porque na verdade e em regra ninguém escolhe a sua marca perante o mundo. Isto é, a sua identificação. Por isso quer esse alguém obrigar os espiões a declarar filiações. Do pouco conhecimento que a Companhia tem dos nomes dos espiões poucos serão tão ridículos como o nome desse alguém. Talvez por isso se queira confirmar se os nomes estão conformes às filiações. 
    E para tanto esse alguém está na disposição de pressionar a maioria. Para quem se demitiu de vice da bancada por causa das minorias bem se percebe que a pressão se dirija para a maioria. Há quem goste de pressionar e quem goste de impressionar. E quem tenha o síndroma de divergência absoluta com o real.
    Se até agora se brincou, é o momento de parar. A legislação pendente para aprovação foi preparada com base num case study. Alguém duvida de que quando esse case study chegou às informações não tinha qualquer filiação das que interessaram ao legislador? Alguém duvida de que quando o case study adquiriu a tal filiação todos os responsáveis do sistema ficaram a saber disso? Alguém duvida que os responsáveis do sistema sabem as filiações de todos os seus elementos? Alguém duvida de que algumas das últimas admissões só ocorreram em função, e por causa, das filiações?
    O que parece é que mais do que os espiões são os seus responsáveis políticos que estão filiados. No ridículo.