21 março 2014

Letras Gordas

Num fim de semana sem notícias (15-3-14), o DN entendeu que devia brindar os seus 1000 leitores (aprox.) com 2 páginas de Atual-Serviços Secretos, com a habitual chamada de primeira página, a qual se destina a garantir que dos tais 1000 leitores há pelo menos 250 que não se vão ficar pelas letras gordas.

A notícia, se disso podemos falar, é servida pela pena dos conhecidos escrivães dessa quase-ciência a que chamam Serviços Secretos. E tem, obviamente, por base as habituais e regulares (precisão quase-suiça) fontes sobre estas apetecíveis matérias.
    A título de sinal e princípio de pagamento surge a inevitável referência aos suspeitos do costume. Nada de estranho. É o habitual modus operandi. Claro que se é o modus operandi é habitual.
     Ficamos, entretanto, a saber, pasmados, que ex-espiões (só no DN os tais quase-cientistas saberão o que isso é, tal a frequência com que o termo é por eles usado) foram recrutados por empresa de lóbi. Nos bancos da formação ensinaram que a missão dos espiões era recrutar. Agora aprendemos por via do DN que também podem ser recrutados. Nunca é tarde para aprender. E o mundo é uma realidade em mutação constante.
    Para estes portentos da Segurança e da Comunicação basta misturar as palavras espião, recrutamento e lóbi para garantir uma ereção a 2 ou 3 leitores mais necessitados dela. Um viagra sem efeitos secundários.
    A quantidade de disparates por parágrafo é tal que deveria envergonhar qualquer cidadão normal. Sublinham-se as palavras cidadão e normal. Mas não é disso que estamos a falar.
    Espiar as leis preparadas na UE parece ser a atividade para a qual terão sido recrutados os ex-espiões. É batido o recorde olímpico da imbecilidade. Espiar leis?
    Como é óbvio o que se pretende é tornar banal o trânsito de elementos dos serviços de informações para empresas privadas. Comparam-se no entanto situações legais, regulares e normais com tudo o que não o é.  Compara-se o lícito com o ilícito. Assemelha-se o legítimo com o criminoso. A amostra escolhida é ridícula.
    Se fosse intenção dar uma perspetiva séria deste trânsito de pessoas que sairam das informações do Estado para empresas privadas (e públicas) seriam dadas dezenas de exemplos de profissionais honestos que estão (ou estiveram) em bancos (nacionais e estrangeiros), empresas dos setores da Energia e das Comunicações, empresas de Formação, empresas de Segurança. Entre outros exemplos.
    Mas pelo que se pode ler o que está a dar é o lóbi.

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