A greve é um direiro dos trabalhadores. E como todos os direitos deve ser exercida de forma responsável.
Aqui terminaria a declaração de interesses da Companhia se não tivesse havido, não há muito tempo, uma declaração de alguém com responsabilidade (não confundir com alguém responsável) que se referia às empresas estratégicas e à necessidade de produção de inteligência económica para apoiar tais empresas (qualquer semelhança com a tese da defesa em juízo de alguém é, naturalmente, pura coincidência, até porque Portugal é o país das coincidências).
Para celebrar e coordenar esta orientação superior reuniram-se os estados-maiores em alegre almoçarada, como é também hábito neste extraordinário país.
Pouco tempo volvido, digerida que foi a forte refeição, a empresa passou de recurso estratégico a moeda de troca para equilibrar o valor do défice público. Talvez por isso alguns asseguram que este ano é que é.
Esquecidas foram as promessas de papel passado para evitar outras greves. Tão esquecidas como todas as promessas feitas em 2011.
E depois tratam-se os profissionais da empresa da mesma forma desrespeitosa e canhestra como se têm tratado os oficiais de informações. Que é aliás como têm sido tratados quase todos os portugueses nos últimos anos (daí que se perceba perfeitamente porque é que, em desespero, se anuncia uma coligação pré-eleitoral).
Voltando à empresa. Há muito tempo que ela deixou de ser estratégica para o país. Muito antes de estes governantes iniciarem funções. Por isso é que noutras paragens as almoçaradas inteligentes seriam punidas com chicote ou prisão, se ao caso não fosse aplicada uma munição solitária.
E há muito também que a empresa deixou de ser bem gerida. Até para justificar a criminosa propaganda de que a gestão pública é incompetente. E para reduzir o valor do bem no mercado, assim beneficiando o comprador. Assim se garantem uns lugares para os próprios e protegidos na empresa privatizada. Tudo dentro da maior legalidade (na linha de todos os procedimentos praticados pelo 44). Até porque como dizia alguém com responsabilidade (não confundir com responsável) "não há corrupção em Portugal".
Depois vieram mais pessoas com responsabillidades (que não responsáveis) dizer que se a greve for por diante a empresa vai à falência e serão despedidos 40% dos trabalhadores (era melhor optarem por um ou outro cenário, é que apresentar ambos não tem nenhuma lógica). É de uma inabilidade notável ameaçar com o despedimento alguém que tem 50% de hipóteses de ser despedido, com greve ou sem ela. Deve ser o que se ensina em alguma universidade de Pyongyang ou Sichuan. Por onde tem andado esta gente?
Ninguém pareceu preocupar-se com a saúde da empresa quando se perderam milhões com os cancelamentos de voos para novos destinos, arranjados à pressa e meios alugados à pressa que nunca apareceram. Em plena época alta. E por acaso os mesmos profissionais agora acusados de sabotadores denunciaram a situação (quando outros a calaram).
Também ninguém se procupou com o estado degradado e decrépito dos meios. E com a progressiva queda da qualidade dos serviços de bordo (para níveis piores do que é o padrão de muitas companhias africanas, sem desprimor). E com o facto de os serviços públicos terem deixado de escolher a empresa, porque em rotas concorrenciais os seus preços são proibitivos (em rotas não concorrenciais são um verdadeiro suicídio, para a empresa).
E agora preocupam-se com a anunciada greve de 10 dias?
Não se preocupam coisa nenhuma. Foi-lhes dado de mão beijada o argumento de que precisavam para acelerar o processo de venda por grosso e ao desbarato da empresa. É que essa venda tinha bastantes opositores internos (os trabalhadores, compreensivelmente) e externos (uns quantos saudosistas e outros que têm uma estranha relação, de tipo sexual, com a bandeira).
"Fiquem lá com a bicicleta".