02 março 2014

Tem cuidado com o que desejas

Alguns anos depois de os EUA terem impulsionado a criação de um estranho Estado no coração da Sérvia -o Kosovo-, baseados no argumento de que a sua população era maioritariamente não-sérvia, algo de muito interessante está a acontecer na Ucrânia, e em especial na Crimeia.
    A soberania e a integridade territorial da Ucrânia poderão ser postos em causa. A Crimeia e partes significativas da Ucrânia poderão seceder do Estado unitário de que fazem atualmente parte.
    O Estado norte-americano e os seus comissários podem dizer o que quiserem. A verdade é que se esta secessão vier a acontecer ela tem o Kosovo como precedente legitimador. Pelo menos à luz de uma nova ordem internacional baseada não nos princípios mas no poder militar.
    Uma coisa é lidar com uma Sérvia frágil saída de um longo período de mais de uma década de guerras, a última das quais contra um inimigo muito superior. Outra coisa é desafiar uma Rússia mais forte e afirmativa do que nunca, por muito que nos andem dizer o contrário.
    Algumas "operações negras" pagam-se caro. E os EUA deveriam estar preparados para pagar esse preço. Mas tudo indica que não estão.
    A UE e as suas principais lideranças governamentais emergem ainda mais fragilizadas (e porque não dizê-lo ridicularizadas) perante um conflito que nunca compreenderam e não souberam mediar. Nomeadamente por terem negligenciado a dimensão externa desse conflito.
    Parece tarde para garantir a integridade territorial da Ucrânia. Mas ainda não é tarde para evitar uma guerra de proporções inimagináveis.

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