Não há eufemismo made in usa que não faça o seu caminho em Portugal. E há várias razões que estão na origem desse atavismo. A primeira é mesmo preguiça. A segunda é parolice. E um parolo acha sempre que os outros são mais burros do que ele próprio.
A expressão metadados que a imprensa avençada da rua do grémio preferiu a dados de tráfego é aparentemente mais modernaça (porque remete directamente para a América, a NSA e Edward Snowden) e inofensiva.
A tese dos avençados é "inconstitucional e proíbido é fazer escutas. Obter metadados é legítimo e permitido, pois a Constituição não os refere". Nem sequer é necessário mexer na Constituição, dizem. Descobriram o ovo de Colombo. Até ao dia em que o tal Tribunal Constitucional lhes vier estragar a brincadeira, como é previsível que aconteça (este governo é um viveiro de constitucionalistas a contrario).
Os tais metadados são assim chamados exactamente porque permitem inferências muito para além dos dados e do que qualquer cérebro humano pode processar. Os metadados são tudo menos inofensivos e são tratados por supercomputadores e algoritmos especificamente concebido para determinadas finalidades.
A este respeito (supercomputadores e algoritmos) estamos conversados. Alguém vai ficar sentado à espera de uma doação do tio da américa sob a forma de aplicação informática. E depois de muito esperar vai receber.
Entretanto os metadados serão obtidos da forma clássica, isto é, sob a forma de dados de facturação. Do senhor X, do senhor Y ou da senhora Z. Serão tratados a olhómetro, como outros o foram no passado, e servirão para alimentar convicções pré-concebidas (ou preconceituosas). Estarão a meio caminho entre o voyeurismo e a má-lingua. Nunca terão nada a ver com informações.
Mas a expressão metadados, na hipocrisia que resulta da sua utilização, lembra aquele tipo (e que tipo) que dizia que já tinha fumado erva, mas não inalado.