24 fevereiro 2014

Quatro milhões e meio de razões

A CNPD quer cobrar coimas no valor de 4,5 milhões de euros à OPTIMUS - SONAECOM no rescaldo do chamado "Caso das Secretas" que se arrasta, penosamente, desde 2010.
    Alguns comentários ocorrem a este propósito.
    Até que enfim há coragem de aplicar coimas de valor compatível com o nível de riqueza dos aparentes prevaricadores. Coragem que ainda não alastrou aos verdadeiros atores da nossa Justiça, mas é um passo que só pode considerar-se muito positivo. Infelizmente nivela-se por baixo, fazendo com que as coimas sejam pesadíssimas para o cidadão comum e "bagatelas" para os "tubarões".
    Se, e quando, tribunais independentes (constituídos por magistrados e procuradores independentes) forem no futuro confrontados com casos desta natureza deixará de haver contemporizações ou intimidação.
    Num caso em que alguns parecem tão interessados em que seja feita justiça por lhes ter sido violada a privacidade - o que é compreensível -, só não se compreende porque é que a intransigência para com os autores materiais se transmuta em complacência com os mandantes.
    O montante desta coima tem - ou deverá ter - uma relação proporcional com outros tipos de responsabilidade. Parece previsível que a materialização dessas responsabilidades venha a ocorrer mediante um efeito "bola de neve" e que seja do tipo solidário.
    No limite teremos o bom velho contribuinte a pagar pelos caprichos e satisfação de interesses de uns poucos.

19 fevereiro 2014

Prefácio

Sobre o suposto prefácio de um suposto livro de um sul-americano que uma
suposta jornalista supostamente noticia, gostaríamos aqui de fazer um
breve comentário.

Infelizmente não tem este blogue secção de PSIQUIATRIA pelo que nos
ficaremos pelas intenções.

10 fevereiro 2014

O SIRP e as praxes

Perguntam-se os nossos leitores o que de comum podem ter o sistema de informações e as praxes académicas? À partida nada. Esta a análise que resulta à primeira vista para qualquer um de nós. Não iremos aqui desvendar se existem praxes no SIRP e muito menos eventuais pormenores dessas praxes. Os serviços do SIRP são entidades inadequadas para as actividades de praxe, pelo que, se existissem, mais grave do que se supõe seria a situação interna dos ditos serviços.

Mas entrando em modo de sintonia fina, têm vindo a público posições relativamente às praxes
que no passado foram adotadas relativamente ao SIRP . Cada vez mais os atores políticos, do governo e da oposição, falam da eventual necessidade de produzir alterações legislativas relativamente às praxes. Recorda-se que hoje em dia as praxes estão submetidas às leis da República. E isso é o que está correto em qualquer Estado de Direito democrático. Seria paroquial e saloio querer produzir regulamentação sobre praxes e mais ainda introduzir tipos especiais de crimes praticados no âmbito das praxes. Mas sobre este assunto remete-se para o diário saloio e para os seus tudólogos de serviço (se numa praxe são adotados comportamentos subsumíveis num determinado tipo de ilícito criminal é o código penal que deve ser aplicado. Criar leis avulsas sobre praxes ou introduzir artigos específicos no referido código é má técnica legislativa). Mas o que é que este arrazoado tem a ver com o SIRP? Nada. Mas às vezes os blogues são como os diários -saloios ou não- e precisam de inserir nos seus títulos palavras que atraiam "clientela". Mas, no fundo, há uma pequena relação com o SIRP. Pequena... Quando, em 2012, o SIRP não saía das primeiras páginas (e dos noticiários radiotelevisionados) pelas piores razões, logo apareceram todos, governo e oposições, a clamarem as sempre convenientes "alterações legislativas". O paliativo que fica sempre bem administrar quando alguma coisa corre mal, normalmente pela incompetẽncia de alguns ou a simples prática de crimes por parte de outros. Mas em vez de aplicar a lei que existe, a turba põe-se a legiferar... 
 
Se aplicassem a lei em vigor ao tempo de certos factos (como mandam os preceitos gerais -ainda- aplicáveis na nossa ordem jurídica) haveria crime e castigo. A atabalhoada legiferação em curso (ALEC) apenas pretende garantir que não haverá castigo. Como lhes convém.

De traição se falará mais tarde!

05 fevereiro 2014

6 anos de companhia



Quem diría que ao fim de seis anos a Companhia ainda cá está. Com altos, baixos, risos, lágrimas, saúde e doenças aqui continua. É um ser vivo. E como todos os seres vivos tem as suas necessidades básicas...e como tal vamos comemorar. Atenção aos próximos dias.

Parabéns Companhia!

25 janeiro 2014

O exemplo da China

João Garcia escreve no Expresso de 25 de janeiro de 2014 : "Na China
convivem agora a economia planificada, o sistema capitalista e "o dos
nossos"."

Há insofismáveis semelhanças entre a China e certos organismos, que só
não serão nomeados porque todos sabemos quais são. Neles, todas as
atividades convivem com três sistemas: o "respeito pela lei" (raro, o
que acontece apenas quando algum "tresmalhado" assume protagonismo), o
de "violação da lei" (frequente, sobretudo porque o conhecimento das
fragilidades do sistema jurídico funciona como propulsor) e "o dos
nossos" (mais frequente ainda, pelas duas razões anteriores aliadas à
soberba e à incompetência).

Como a China já existia, ainda os tetravós de toda esta gentalha andava
a passear do lado esquerdo para o direito de certa zona do órgão
reprodutor masculino, é de presumir que também nesta área o que lhes
falta em criatividade e dignidade sobra-lhes em subserviência e nulidade.

Da traição se falará um dia.

23 janeiro 2014

Aviso



Desistam!

Só entra quem é convidado.

Vão chatear o careca.

21 janeiro 2014

O SIRP e o Código da Estrada

A linguagem estradal entrou definitivamente no dia a dia do SIRP. O tema agora é "Ultrapassagem".

Mas já foi "Via rápida", "Sentido proíbido" e "Perigo/Danger".

Presume-se que em breve poderá ser "Trânsito congestionado" e, mais tarde ou mais cedo, "Estrada sem saída".

19 janeiro 2014

Com dirigentes assim, quem precisa de inimigos? (9)

O material informático também veio à conversa na AR nas palavras do
secretário do SIRP. Presume-se que o que existe seja muito usado.
Noutros tempos, que não os que atravessamos, dir-se-ia tratar-se de
material obsoleto.

E o secretário, preocupado, acusa as dificuldades financeiras do que se
passa nessa área ao mesmo tempo que reconhece que 10% do orçamento está
disponível para operações. Devemos pois concluir que o que há é um
problema de gestão e de prioridades.

Se a cibersegurança fosse uma prioridade, como o secretário afirma, o
material informático não seria obsoleto. Se a missão das secretas fosse
prevenir e proteger o Estado português das ameaças vindas do ciberespaço
o que dizer de alguém que nos protege "de mãos atadas"?

Sobre o material informático, a cibersegurança e a proteção do Estado
português parece haver alguém a confundir "a prima do mestre de obras"
com a "obra prima do mestre". E nós elegemos aqueles senhores que estão
na AR para quê?

Com dirigentes assim, quem precisa de inimigos? (8)

Preocupa-se o secretário do SIRP com as entradas de pessoal nos serviços
que tutela. Parece que desde 2008 não se verificam novas entradas.

Uma vez mais parece que nos serviços do Estado português se vive na
Terra e nas secretas se vive em Marte. Em que outros serviços públicos
tem havido admissões quando a lei as proíbe? E já as proibia em 2008,
portanto seria útil perceber como é que LEGALMENTE elas aconteceram.

Se o problema das secretas fosse falta de pessoal teria certamente no
universo dos funcionários públicos milhares de candidatos a potenciais
"espiões". E bastava selecionar, recrutar e formar. Claro que para isso
seria preciso orçamento. Mas afinal de contas tem havido tantas
passagens à reforma...

E SE existisse uma política de pessoal já se teria certamente resolvido
o problema da "transmissão de conhecimentos". E não sairiam os melhores
para outros serviços públicos e para empresas privadas. SE existisse uma
verdadeira política de pessoal premiava-se o mérito e corrigia-se o
demérito.

Mas não há uma verdadeira política de pessoal. Há tão-só AGENCIAMENTO. E
conivência.

Com estes dirigentes, quem precisa de inimigos? (7)

A fusão dos serviços de informações terá sido discutida na audição do
secretário do SIRP na AR.

Com um "sistema" em desmoronamento acelerado a solução é sempre a fuga
para a frente. Ou como no clássico de Lampedusa, "Gattopardo", sobre a
decadência da aristocracia siciliana no século dezanove, é preciso fazer
alguma coisa para continuar tudo na mesma.

A fusão já foi feita em 2004. Desde 2008 que andam a cantar hosanas ao
magnífico sistema de departamentos administrativos comuns que não só não
terão produzido economias de escala, como serão um exemplo de
ineficiência. E há unanimidade no reconhecimento de que o serviço
interno prestado é pior quando comparado com o período anterior ao
"comunismo".

Mas a tudo isto, aquele "centro de negócios" em que se tornou o lugar
onde se decidem estas coisas, responde com a panaceia da "fusão".

A mesma que existe na lei e na prática desde 2004. Então o que querem
estes senhores?

Querem um serviço "único". Uma única designação. Mas querem que continue
a existir um secretário do SIRP, com um supergabinete atulhado de
crânios, um diretor geral para as informações externas e um diretor
geral para as informações de segurança. Ou seja: continuar tudo na mesma!

Alguém viu algum estudo independente (não confundir com estudos feitos
por licenciados na antiga universidade independente e quejandas) que
descreva as vantagens e desvantagens (sobretudo financeiras) das
diversas soluções? E alguém já equacionou a "concessão" das informações
de segurança às polícias (PJ, PSP, GNR, SEF)? E porque não as
informações externas atribuídas em "concessão" ao MNE?

São sistemas que existem noutros Estados e têm a vantagem de serem mais
económicos, integrados e funcionais. Mas se calhar o problema é mesmo
esse: a funcionalidade...

Com estes dirigentes, quem precisa de inimigos? (6)

Veio o secretário do SIRP afirmar que só 10% do orçamento é usado para
atividades operacionais. Como ele é responsável não por um mas por TRÊS
orçamentos, talvez fosse útil que os senhores deputados "auditores"
pedissem a aclaração da afirmação. É a média? Há orçamentos
deficitários? Há transferências interorçamentais?

Mas nada. Talvez fosse de explicar a quem profere este tipo de
afirmações que a generalidade dos serviços do Estado consomem 100% das
suas receitas orçamentais com as ditas "despesas administrativas com
pessoal" e despesas correntes de funcionamento, como bens e serviços. E
estão nessa situação porque o governo não tem sido com eles tão
benevolente com tem sido com serviços cujos dirigentes reconhecem
publicamente estarem "de mãos atadas".

Há uma estranha noção de equidade na distribuição dos recursos do Estado
pelos serviços públicos. Mesmo quando os dirigentes reconhecem que estão
"de mãos atadas".

Com estes dirigentes, quem precisa de inimigos? (5)

As "dificuldades financeiras" das secretas tiveram como resultado, ao
que disse o secretário do SIRP na AR, uma "redução da produção" e uma
"revisão das prioridades" nos serviços de informações.

PRODUÇÃO? O que é que se produz de mãos atadas? Hummmm... Além disso
muitos dirigentes das secretas são conhecidos pela alcunha das suas
atividades no terciário (merceeiro, taberneiro, cozinheiro...) não no
setor primário.

Quanto à revisão: sabemos que muitos dirigentes (e ex-dirigentes) das
secretas se familiarizaram nos anos 70 com o revisionismo. Nunca se
imaginou foi que viessem a público admitir tal facto.

Com estes dirigentes, quem precisa de inimigos? (4)

A preocupação relativamente à forma como as questões orçamentais estão a
atingir os serviços secretos manifestada pelo secretário do SIRP, em 14
de janeiro de 2014, na AR, poderia indiciar coisa boa.

Em 2010 um antigo dirigente das secretas, depois de uma passagem fugaz
pelo SIED, invocou razões orçamentais para se demitir.

Será que daqui a três meses veremos este titular a secretariar uma
qualquer outra organização de tipo empresarial?

Nas secretas suspira-se: "DEUS QUEIRA!"

17 janeiro 2014

Com estes dirigentes, quem precisa de inimigos? (3)

No dia 14 de janeiro disse também o secretário estar "sem condições"
para afirmar a existência ou inexistência da célula da NSA.

"Sem condições" sabe-se que está há muito tempo. E à semelhança de tudo
quanto é político em Portugal ninguém retira disso qualquer ilação. E
muito menos os protagonistas diretos.

Mas o que resulta curioso é a inversão de prioridades, inusitada para um
alegado jurista. A falta de condições deve-se PRIMEIRO à falta de acesso
a condições técnicas e SEGUNDO a preceitos legais que condicionam uma
intervenção imediata.

Respeito pela lei? Se dúvidas existissem...

E uma pertinência final: que crânios, certamente pagos a peso de ouro,
debitam estas construções teóricas? Cuidem-se! A Goldman Sachs está de
olho em vós!

Com estes dirigentes, quem precisa de inimigos? (2)

Na audição disse também o secretário que as "mãos atadas" se deviam a
"limitações legais" e a "condições técnicas".

Uma pergunta sobre as "limitações legais": o pacote legislativo pendente
para aprovação na AR não responde a tais limitações legais? Alguém é
muito distraído. Desde logo os partidos da maioria que tanta pressa
tiveram em produzir uma das maiores aberrações jurídicas vistas pela
comunidade das informações em Portugal.

Sobre as "condições técnicas" há, certamente, uma contradição no axioma:
havendo limitações legais como poderiam existir condições técnicas? Será
que estamos a falar de uma mera deficiência na construção da lógica ou
de um terrível hábito de práticas contrárias à lei?

Numa república séria em que alguém tivesse real conhecimento dos
assuntos discutidos em comissão teria havido verdadeiro confronto
político e técnico. No bananal os suspeitos do costume qualificam o
sofrível desempenho do personagem como "interessante". Do mesmo modo que
seria "interessante" o coito praticado por formigas.

15 janeiro 2014

Com estes dirigentes, quem precisa de inimigos? (1)

O secretário geral do SIRP foi ouvido na 1.ª comissão da AR no dia 14 de janeiro de 2014.

Sobre as eventuais células da NSA a operar em Portugal disse (Público, de 15 de janeiro de 2014) que os serviços “estão de mãos atadas” para fazer frente às suspeitas de atividade em território nacional.

Não se percebe se isto foi um desabafo, um convite ou um fétiche (há quem goste de fantasiar sexualmente com as mãos atadas ou algemadas…).

Desabafo não deve ter sido. Ao fim de quase dez anos de exercício do cargo devemos concluir que gosta deste estado de coisas (que não é novo…), senão teria tentado alterar a situação ou pedido dignamente a sua exoneração.

Restam as hipóteses de convite, para que os espiões estrangeiros nos devassem ainda mais enquanto Estado e nação, ou de caprichoso fétiche.

08 janeiro 2014

A célula

Quer o Bloco de Esquerda ouvir na assembleia o secretário geral do SIRP. Em causa estará a noticia de uma célula conjunta da NSA e da CIA a operar em Portugal.

Quer o BE saber se o SIS tem disto conhecimento. Naturalmente que o desiderato do BE é meramente político, destinando-se a colocar mais pressão sobre o governo e colocando-se a si mesmo na agenda dos media. A audição do SG visa obviamente atingir a governação e, dentro desta, o primeiro ministro. É um evento ao estilo “fait-divers” para justificar a presença parlamentar do Bloco, agora que se avizinham eleições europeias que se supõe irão ser duras.

Curioso, mas não estranho (porque há muito que a estranheza anda zangada com as informações em Portugal), é que a notícia do EXPRESSO sobre a tal “célula conjunta”, que fez primeira página no Natal de 2013, tenha sido dada por alguém que semanas antes palestrou num seminário organizado pelo SIRP.

Coincidência?
Nem por isso.

E os desejos de um bom 2014.

15 novembro 2013

Os fantasmas

Recebemos por e-mail o seguinte texto:

«
E.M.F. Duarte Pinheiro

Os fantasmas revisitados

Rui Pereira escreveu em 3 de outubro na sua coluna de opinião no Correio da Manhã uma peça de divulgação de um seminário (mais um…) sobre os serviços de informações.

Por ter sido aqui publicado o referido artigo, desnecessário se torna recorrer à sua citação.

Importa, contudo, tecer alguns comentários breves.

Breves porque a qualidade da seriedade colocada na abordagem não inspira mais. Breves porque só quem não tem mais que fazer ou que pensar anda, recorrentemente, em torno desta temática.

A discussão “sem tabus” de que nos fala o TP (t de tudólogo) só dá para rir. Se há coisa que esta gente (TODA esta gente) mais tem trazido para esta discussão são tabus.

Primeiro tabu: nunca se discutiu o sistema de informações a partir da sua “base zero”. A abordagem sobre a arquitetura do SIRP parte sempre do princípio da necessidade e justificação de existência de serviços de informações em Portugal. Já que PARECEM todos tão interessados em “cortar”, porque não cortar na própria existência de serviços de informações. Ou pelo menos discutir, seriamente, a sua existência e história recente?

Segundo tabu: não trazer para o debate uma questão seminal que é a de saber se “as informações” devem ser uma função (ou capacidade) do Estado ou tão só um organismo, conjunto de organismos ou instituições. Se é verdade que a Constituição da República prevê a existência de um SIRP, nenhum comando impõe uma arquitetura determinada. E, neste sentido, nada obsta que a função de informações seja integrada com as funções de segurança, de defesa militar ou até de política externa. E também aí teríamos um claro ganho de sinergias e vantagens financeiras. Mas será essa a motivação destes “fantasmas”?

Terceiro tabu (com algumas semelhanças com o terceiro segredo): o “dogma” da existência de um secretário geral transformado em dirigente máximo do sistema, com poderes de gestão operacional, administrativa e financeira. Ao mesmo tempo que subsistem uns obscuros diretores (estranha mas legalmente) equiparados a diretores gerais. A racionalidade e o bom senso não passaram pelo SIRP em 2004 e, desde então, de lá têm andado muito afastados. Alguém cuida de saber o que custa ao país ter um secretário geral com um gabinete de dimensão superior ao de muitos ministros? E o que custam serviços de apoio depois replicados nos próprios serviços? E porque é que se criou o cargo de secretário geral? Qual a sua origem remota e a natureza do cargo?

Muito mais tabus poderiam ser elencados.

A despropositada referência à PIDE revela o grau de desfazamento da opinião com a realidade. A não ser por razões de conhecimento histórico ou estudo científico a associação entre informações e a PIDE só pode ser feita por quem tenha os seus (poucos) genes intelectuais marcados pela perseguição política, nomeadamente ao ideário comunista (até porque os totalitarismos são exclusivistas e não toleram qualquer “concorrência”).

Provoca gargalhadas a afirmação de que os serviços de informações são próprios de democracias. Por essa lógica também o são de ditaduras e de totalitarismos. E se é verdade que há democracias sem serviços de informações (não confundir com democracias sem função ou capacidade de informações) não há ditaduras que não se apoiem em pesadas maquinarias e serviços de informações. Estes são nas ditaduras um instrumento VITAL para a sua perpetuação. O mesmo não se pode dizer das democracias. Mas entrar nesta discussão com quem entende mais de alheiras e de vinho tinto é pura perda de tempo.

Diga-se, porém, que é nos estados ditatoriais e totalitários que os dirigentes máximos dos serviços de informações ascendem a altos cargos políticos. E os exemplos são tantos que nem vale a pena insistir no argumento. Esse movimento é raro em democracia (ou inexistente em democracias antigas e consolidadas). O mesmo não é válido para democracias jovens e frágeis.

TP contribuiu com a sua argumentação para o constante ruído em torno do assunto das informações. Ruído incomodativo e inútil, entenda-se. A defesa do serviço único “que teria o mérito de evitar sobreposições inúteis e redundâncias duvidosas” por quem teve responsabilidades políticas ao mais alto nível, omite (porque assim o quer) que desde 2004 temos em Portugal um sistema (por eles designado) de “fusão de topo”. Este “modelo” apresentado (e depois defendido em escritos vários, que são públicos) como a quinta-essência da virtude nas informações traria o melhor que a capacidade de informações do estado poderia ter, sem os “riscos” do monolitismo de um serviço sem “sintonia fina”.

Se entre 2005 e 2013 não houve mudanças significativas na liderança do SIRP e dos serviços e se há “inutilidade nas sobreposições” e “duvidosas redundâncias” (eles lá sabem do que falam, mas não partilham) é porque os mais altos cargos operacionais do SIRP assim o desejaram. Ou se o não desejaram foram TOTALMENTE incompetentes para o evitar.

Discutir se devem existir um, dois ou três serviços quando na realidade eles são dirigidos, a todos os níveis (e a legislação pendente de aprovação na AR apenas reforça essa direção), por um único dirigente máximo é querer evitar apenas uma coisa: uma discussão HONESTA sobre a competência da liderança.

Apenas mais umas notas sobre o seminário. É elucidativo que os palestrantes convidados sejam, numa expressão que fez escola no tempo da PIDE, “vira o disco e toca o mesmo”. Seria uma comédia se não fosse um claro sintoma de insanidade, na inteligente perspetiva de Albert Einstein, daqueles que fazem as mesmas coisas vezes sem conta e esperam resultados diferentes. E a culminar sobre tudo isto não é, HONESTAMENTE, reconhecido a nenhum destes ilustres personagens qualquer experiência, contacto ou currículo relevante na área. E os poucos que têm currículo, limitado no tempo e pela natureza das funções exercidas, são associados a estes eventos numa tentativa paroquial e evidente de garantir a sucessão dos mesmos que tendo tido todos os recursos e tempo à sua disposição falharam.

Fantasmas que sucedem a fantasmas.»

21 outubro 2013

O fantasma da Pide – sem comentários

O fantasma da PIDE, Rui Pereira, Correio da Manhã, 3-10-2013

Nesse incomparável santuário da Liberdade que é a Universidade, realizou-se, esta semana, um interessante debate sobre os serviços de informações.

O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas acolheu personalidades do universo da “inteligência” com especiais responsabilidades em relação ao modelo legal e à direção operacional do nosso Sistema discutiram sem tabus os projetos de reforma legislativa apresentados na Assembleia da República e os problemas que urge resolver para tornar os serviços mais eficazes.

Volvidos quase quarenta anos sobre a implantação da Democracia, todos os conferencistas reconheceram que o fantasma da polícia política continua a pairar sobre os serviços de informações. Todavia, não há razões que o justifiquem. A PIDE/DGS nunca foi um puro serviço de informações. Era um produto híbrido e tentacular em que se fundiam competências de polícia criminal, de serviço de fronteiras, de serviço de informações e até, em alguns aspetos, de Ministério Público. Na verdade, os serviços de informações são próprios das democracias.

Por outro lado, os serviços de informações são um importante fator de competitividade num mundo globalizado e de risco. São indispensáveis para prevenir, entre outras, as ameaças do terrorismo global, da cibercriminalidade ou da espionagem económica. Porém, para cumprir essas missões, têm de possuir as competências e os meios adequados. É incompreensível que o nosso país constitua uma ilha que persiste em recusar aos serviços a possibilidade de realizar “escutas” em caso de absoluta necessidade e mediante autorização de um conselho de juízes.

Também não há razões que desaconselhem a criação de um serviço único, que teria o mérito de evitar sobreposições inúteis e redundâncias duvidosas. O receio de criação de um monstro de Frankenstein não tem nenhum fundamento. Contudo, os projetos não foram por aí. Preferiram ocupar-se da previsão de “deveres voluntários” (?), de um “registo de interesses” que não preserva a liberdade religiosa nem a liberdade de consciência e de um regime de segredo de Estado que ignora o princípio da separação de poderes. Ainda estão a tempo de arrepiar caminho.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/rui-pereira/o-fanstama-da-pide

21 abril 2013

Em Refundação.