15 novembro 2013

Os fantasmas

Recebemos por e-mail o seguinte texto:

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E.M.F. Duarte Pinheiro

Os fantasmas revisitados

Rui Pereira escreveu em 3 de outubro na sua coluna de opinião no Correio da Manhã uma peça de divulgação de um seminário (mais um…) sobre os serviços de informações.

Por ter sido aqui publicado o referido artigo, desnecessário se torna recorrer à sua citação.

Importa, contudo, tecer alguns comentários breves.

Breves porque a qualidade da seriedade colocada na abordagem não inspira mais. Breves porque só quem não tem mais que fazer ou que pensar anda, recorrentemente, em torno desta temática.

A discussão “sem tabus” de que nos fala o TP (t de tudólogo) só dá para rir. Se há coisa que esta gente (TODA esta gente) mais tem trazido para esta discussão são tabus.

Primeiro tabu: nunca se discutiu o sistema de informações a partir da sua “base zero”. A abordagem sobre a arquitetura do SIRP parte sempre do princípio da necessidade e justificação de existência de serviços de informações em Portugal. Já que PARECEM todos tão interessados em “cortar”, porque não cortar na própria existência de serviços de informações. Ou pelo menos discutir, seriamente, a sua existência e história recente?

Segundo tabu: não trazer para o debate uma questão seminal que é a de saber se “as informações” devem ser uma função (ou capacidade) do Estado ou tão só um organismo, conjunto de organismos ou instituições. Se é verdade que a Constituição da República prevê a existência de um SIRP, nenhum comando impõe uma arquitetura determinada. E, neste sentido, nada obsta que a função de informações seja integrada com as funções de segurança, de defesa militar ou até de política externa. E também aí teríamos um claro ganho de sinergias e vantagens financeiras. Mas será essa a motivação destes “fantasmas”?

Terceiro tabu (com algumas semelhanças com o terceiro segredo): o “dogma” da existência de um secretário geral transformado em dirigente máximo do sistema, com poderes de gestão operacional, administrativa e financeira. Ao mesmo tempo que subsistem uns obscuros diretores (estranha mas legalmente) equiparados a diretores gerais. A racionalidade e o bom senso não passaram pelo SIRP em 2004 e, desde então, de lá têm andado muito afastados. Alguém cuida de saber o que custa ao país ter um secretário geral com um gabinete de dimensão superior ao de muitos ministros? E o que custam serviços de apoio depois replicados nos próprios serviços? E porque é que se criou o cargo de secretário geral? Qual a sua origem remota e a natureza do cargo?

Muito mais tabus poderiam ser elencados.

A despropositada referência à PIDE revela o grau de desfazamento da opinião com a realidade. A não ser por razões de conhecimento histórico ou estudo científico a associação entre informações e a PIDE só pode ser feita por quem tenha os seus (poucos) genes intelectuais marcados pela perseguição política, nomeadamente ao ideário comunista (até porque os totalitarismos são exclusivistas e não toleram qualquer “concorrência”).

Provoca gargalhadas a afirmação de que os serviços de informações são próprios de democracias. Por essa lógica também o são de ditaduras e de totalitarismos. E se é verdade que há democracias sem serviços de informações (não confundir com democracias sem função ou capacidade de informações) não há ditaduras que não se apoiem em pesadas maquinarias e serviços de informações. Estes são nas ditaduras um instrumento VITAL para a sua perpetuação. O mesmo não se pode dizer das democracias. Mas entrar nesta discussão com quem entende mais de alheiras e de vinho tinto é pura perda de tempo.

Diga-se, porém, que é nos estados ditatoriais e totalitários que os dirigentes máximos dos serviços de informações ascendem a altos cargos políticos. E os exemplos são tantos que nem vale a pena insistir no argumento. Esse movimento é raro em democracia (ou inexistente em democracias antigas e consolidadas). O mesmo não é válido para democracias jovens e frágeis.

TP contribuiu com a sua argumentação para o constante ruído em torno do assunto das informações. Ruído incomodativo e inútil, entenda-se. A defesa do serviço único “que teria o mérito de evitar sobreposições inúteis e redundâncias duvidosas” por quem teve responsabilidades políticas ao mais alto nível, omite (porque assim o quer) que desde 2004 temos em Portugal um sistema (por eles designado) de “fusão de topo”. Este “modelo” apresentado (e depois defendido em escritos vários, que são públicos) como a quinta-essência da virtude nas informações traria o melhor que a capacidade de informações do estado poderia ter, sem os “riscos” do monolitismo de um serviço sem “sintonia fina”.

Se entre 2005 e 2013 não houve mudanças significativas na liderança do SIRP e dos serviços e se há “inutilidade nas sobreposições” e “duvidosas redundâncias” (eles lá sabem do que falam, mas não partilham) é porque os mais altos cargos operacionais do SIRP assim o desejaram. Ou se o não desejaram foram TOTALMENTE incompetentes para o evitar.

Discutir se devem existir um, dois ou três serviços quando na realidade eles são dirigidos, a todos os níveis (e a legislação pendente de aprovação na AR apenas reforça essa direção), por um único dirigente máximo é querer evitar apenas uma coisa: uma discussão HONESTA sobre a competência da liderança.

Apenas mais umas notas sobre o seminário. É elucidativo que os palestrantes convidados sejam, numa expressão que fez escola no tempo da PIDE, “vira o disco e toca o mesmo”. Seria uma comédia se não fosse um claro sintoma de insanidade, na inteligente perspetiva de Albert Einstein, daqueles que fazem as mesmas coisas vezes sem conta e esperam resultados diferentes. E a culminar sobre tudo isto não é, HONESTAMENTE, reconhecido a nenhum destes ilustres personagens qualquer experiência, contacto ou currículo relevante na área. E os poucos que têm currículo, limitado no tempo e pela natureza das funções exercidas, são associados a estes eventos numa tentativa paroquial e evidente de garantir a sucessão dos mesmos que tendo tido todos os recursos e tempo à sua disposição falharam.

Fantasmas que sucedem a fantasmas.»

21 outubro 2013

O fantasma da Pide – sem comentários

O fantasma da PIDE, Rui Pereira, Correio da Manhã, 3-10-2013

Nesse incomparável santuário da Liberdade que é a Universidade, realizou-se, esta semana, um interessante debate sobre os serviços de informações.

O Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas acolheu personalidades do universo da “inteligência” com especiais responsabilidades em relação ao modelo legal e à direção operacional do nosso Sistema discutiram sem tabus os projetos de reforma legislativa apresentados na Assembleia da República e os problemas que urge resolver para tornar os serviços mais eficazes.

Volvidos quase quarenta anos sobre a implantação da Democracia, todos os conferencistas reconheceram que o fantasma da polícia política continua a pairar sobre os serviços de informações. Todavia, não há razões que o justifiquem. A PIDE/DGS nunca foi um puro serviço de informações. Era um produto híbrido e tentacular em que se fundiam competências de polícia criminal, de serviço de fronteiras, de serviço de informações e até, em alguns aspetos, de Ministério Público. Na verdade, os serviços de informações são próprios das democracias.

Por outro lado, os serviços de informações são um importante fator de competitividade num mundo globalizado e de risco. São indispensáveis para prevenir, entre outras, as ameaças do terrorismo global, da cibercriminalidade ou da espionagem económica. Porém, para cumprir essas missões, têm de possuir as competências e os meios adequados. É incompreensível que o nosso país constitua uma ilha que persiste em recusar aos serviços a possibilidade de realizar “escutas” em caso de absoluta necessidade e mediante autorização de um conselho de juízes.

Também não há razões que desaconselhem a criação de um serviço único, que teria o mérito de evitar sobreposições inúteis e redundâncias duvidosas. O receio de criação de um monstro de Frankenstein não tem nenhum fundamento. Contudo, os projetos não foram por aí. Preferiram ocupar-se da previsão de “deveres voluntários” (?), de um “registo de interesses” que não preserva a liberdade religiosa nem a liberdade de consciência e de um regime de segredo de Estado que ignora o princípio da separação de poderes. Ainda estão a tempo de arrepiar caminho.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/rui-pereira/o-fanstama-da-pide

21 abril 2013

Em Refundação.